3 – Sua passagem pelo teatro conta com 23 anos de intensos trabalhos, e alguns deles em grupos de renome como o Galpão. Como é vivenciar o dia a dia nessas Cias, já que a gente só conhece o momento de vocês no palco?

São verdadeiros ensinamento para a vida. Nos tornamos uma família, com alegrias, tristezas, descobertas e muito trabalho. No teatro de grupo temos o tempo a nosso favor. Podemos investir, pesquisar, criar sobre o olhar dos colegas de cena que muitas vezes também são produtores, negociadores de sua arte. A compreensão do processo de criação para a montagem de um espetáculo, de uma ação coletiva passa por todos os setores: produção executiva e administrativa, figurinos, cenários, iluminação, designer, músicos, atores… Os setores se constituem na formação do coletivo, na história das pessoas e na luta resistente pela sobrevivência do teatro. Escolhi trabalhar com grupos e formação de coletivos a partir das minhas experiências vividas nessas famílias. Poder conduzir o trabalho reconhecendo os setores (funções no teatro) me traz autonomia e mais discernimento para a arte que proponho realizar. 

4 – Quando foi que você resolveu buscar novos horizontes na carreira?

Quando percebi que estava me distanciando dos propósitos iniciais da minha escolha: Viver de teatro. Minha formação em Artes Cênicas desde o início esteve muito próxima dos problemas sociais. Saindo da Escola de Teatro me deparo imediatamente com o teatro de rua, com as operetas populares, com textos baseados em críticas construtivas sociais, e fui me distanciando deste lugar, devido às necessidades impostas pela profissão. Sempre soube que o meu lugar é o teatro, nunca me importei com o poder da televisão, apesar de ter feitos poucas coisas. Passando por coletivos de teatro, elencos para montagens, dando aulas, fui conquistando maturidade para desglamourizar esta arte vista por muitos como objeto de sonhos e desejos. Tenho sonhos e desejos, mas eles não passam mais por lugares que não sejam o da educação. Acredito seguramente no teatro como uma poderosa ferramenta para a educação de um indivíduo, então, ser sincero com os educandos por intermédio das minhas experiências me fez mudar bastante o rumo da minha arte. 

5 – Você atua no chamado ‘Artivismo’. O que seria?

Este movimento, o Artivismo tem conquistado caminhos significativos desde a virada do Sec. XXI. Envolvido com questões políticas e sociais dentro da arte do teatro comecei a perceber a necessidade de “defesa e liberdade” de alguns valores. Por exemplo, me juntar aos movimentos sociais LGBTQI+, estudar sobre o movimento negro e feminista me despertaram atenção para um tipo de trabalho que estava sendo desenvolvido no teatro educação, então fomentar o discurso de liberdade e defesa com o teatro foi o caminho escolhido. Compreendo o artivismo como uma manifestação de desejos e incorporação do teatro com a política, a religião (espiritualidade subversiva), ações sociais, entretenimento e utilidade pública. Extrapolando o ativismo que muitas vezes se estabelece em um único lugar. Artivismo é luta e resistência, não esquecendo que isso também é arte.  

6 – Você também está à frente de outro projeto interessantíssimo, que é o Teatro na Escola – Resgatando Virtudes e Valores. Que reações, das mais inusitadas, o público compartilhou contigo durante as apresentações? 

Tenho desenvolvido este projeto ao longo dos 20 anos dedicados ao teatro educação. O Projeto de Teatro na Escola Resgatando Virtudes e Valores, de minha autoria, inicialmente teve reconhecimento perante as práticas de Meditação Raja Yoga da Universidade Bhrama Kumaris, passando pelo processo de Respiração Circular e Meditação Ativa Tântrica do Centro de Meditação Metamorfose, na cidade de Belo Horizonte, além de práticas sociais em uma comunidade de fé cristã inclusiva. Juntando tudo isso em um único projeto, estabeleci que queria ensinar teatro na escola pela via dos valores essenciais do ser humano. Então as aulas são divididas em momentos de: meditação e reflexão, expressão corporal e vocal, improvisações e estudos teóricos. Uma reação inusitada recorrente é a participação dos pais dos alunos em aulões abertos, encontros presenciais das práticas teatrais. Muitos pais, movidos pela curiosidade, medos das descobertas dos filhos, se envolvem com as propostas do projeto ao ponto de assumirem em suas vidas práticas de meditação, bem como mudanças de hábitos sociais em um processo para uma educação participativa. Em alguns momentos abrimos a participação das famílias junto a criação artística que vai além da performance do indivíduo.