Xandy Novaski entrevista o professor de matemática e escritor Osiris Roriz
Você já ouviu falar em palíndromos? Pois bem… OSIRIS RORIZ é um palindromista, ou seja, aquele que consegue montar frases que, de trás para frente, têm a mesma leitura, ou reconhecer palavras que são possibilidades para um palíndromo. Seu heterônimo Ziro Roriz (leia da direita para a esquerda e perceba) é usado para assinar seu livro “Palíndromos – Um Desafio Linguístico” (Ed. Artes & Textos). Também haicaista (denominação que vem do haicai, um formato poético japonês, tradicional e muito antigo), o professor de matemática e escritor assina o livro “Haicais & Haikus” (Ed. Artes & Textos) como Osiris Duarte de Curityba, outro heterônimo. Conheça mais sobre essas duas artes encantadoras através de um artista singular!
1 – Conta pra gente: como foi que você se deparou com os palíndromos?
É uma história que tem mais de 50 anos. Eu devia estar com 14 ou 15 anos, quando um colega de escola ginasial, em sala de aula, escreveu com letras de forma, no quadro negro, a antiga e famosa frase palindrômica: SOCORRAM-ME SUBI NO ÔNIBUS EM MARROCOS. Nenhum dos colegas, incluso eu, nada entendeu. Foi quando este colega, que não recordo o nome, sugeriu que a leitura fosse feita, letra por letra, do fim para o começo. E todos, incluso eu, admiraram-se, pois a leitura do fim para o começo, reproduzia a mesma frase na leitura normal. Este dito colega, nem nenhum dos outros colegas, tampouco o professor de português que estava presente, sabia que esta espécie de frase era um Palíndromo. Fiquei por alguns dias tentando escrever uma frase palindrômica, mas confesso que nada consegui. Sequer consegui detectar palavras palindrômicas, tal REGER, MIRIM, RAPAR, ou quaisquer outras. E a Palindromia, que é a denominação da técnica para a criação de Palíndromos, ficou adormecida na minha memória por 30 e poucos anos.
2 – Escrever uma frase ou palavra que também pode ser lida de trás para frente (da esquerda para a direita) é algo que exige criatividade. Existe uma técnica para a criação dessas sequências com sentido?
Eu diria que é uma espécie de desafio linguístico. Ou, uma preferência por esquisitices. Existem algumas técnicas básicas para compor frases palindrômicas. Uma delas é ter certa habilidade para ler quaisquer palavras de trás para frente. A exemplo da palavra MARATONA, que lida da direita para a esquerda, resulta ANOTARAM. Ou, a palavra LÂMINA, que lida ao contrário dá ANIMAL. Ou, ATREVER, que da leitura invertida tem-se REVERTA. As palavras com vogais e consoantes alternadas, tipo, SOPAS, são as mais imediatas para compor frases palindrômicas. Por exemplo: MISSA É ASSIM. ANOTARAM A MARATONA. OI RATO OTÁRIO. SOPAS SÓ DO PAPO DOS SAPOS. E assim por diante. E como já o disse, a Palindromia é um desafio linguístico. Tal como é desafio, a decifração de enigmas, ou, a resolução de palavras cruzadas. Há que se dizer que, pessoas pouco alfabetizadas, terão mais dificuldades para criar palíndromos.
3 – Existem palíndromos em que se forma uma frase da esquerda pra direita e outra da direita pra esquerda?
Sim. São os duplos palíndromos. Modéstia à parte, exceto eu mesmo, não conheço outro palindromista que componha duplos palíndromos, ou seja, frases onde se tem, a rigor, duas frases, uma na leitura normal, e, outra diferente na leitura de trás para frente. Exemplo: É TROCO NA CORTE, ACUDA CADUCO, ATÉ TAPA DA GORDA ALEMÃ LEVA. E também você poderá ter um duplo palíndromo, onde a leitura normal é uma pergunta, e a leitura palindrômica é a respectiva resposta: É A CIDA SÁDICA? A CIDA SÁDICA É.
4 – O palíndromo inclusive está na composição de palavras em outras línguas. ‘RECONECER’, em espanhol, por exemplo. Como o palíndromo é tratado no exterior?
É evidente que a palindromia só faz sentido na escrita. Existem palíndromos em qualquer língua com escrita alfabética. E com qualquer alfabeto, seja o alfabeto grego, cirílico, hebraico, árabe, ou qualquer outro, desde que seja um alfabeto de letras. Desconheço a palindromia em línguas com escrita ideográfica, tal o japonês ou o chinês. E relativamente nas línguas hebraico e árabe, cuja escrita normal é da direita para a esquerda, há palíndromos. Sem esquecer do alfabeto latino, presente na língua portuguesa, francesa, inglesa, espanhola, alemã, entre outras. Alguns palíndromos em línguas estrangeiras:
Inglês – CIGAR, TOSS IT IN A CAN, IT IS SO TRAGIC
Alemão – EIN ESEL LESE NIE
Espanhol – SE NOTA PASO, SAPATÓN ÉS
5 – Há seis anos os palíndromos te levaram para o Programa do Jô. O quê daquele momento ainda reverbera na sua carreira ainda hoje?
O Programa do Jô, creio ter sido o único talk-show a divulgar a palindromia em língua portuguesa. Minha participação foi assistida não só no Brasil, mas em vários países lusófonos, nos quais se veiculava a programação da Rede Globo, tais como, Portugal, Moçambique, Angola, e também em países onde há significativa presença de brasileiros e portugueses, como Estados Unidos e Inglaterra. Em homenagem ao Jô, cujo nome completo é José Eugênio Soares, compus três palíndromos: ÉS O JOSÉ – OI NEGUE EUGÊNIO – SERÁ O SOARES. E ainda, há que se registrar que na Espanha, em Barcelona, existe o Club Palindromista Internacional, que agrega palindromistas em língua espanhola, e em catalão, onde, modéstia à parte, sou o único membro palindromista em língua portuguesa. Mas deixe-me contar sobre meu heterônimo palindrômico que é ZIRO RORIZ. Resultou de meu apelido em família, qual seja ZIRO, junto com meu sobrenome civil que é RORIZ. E também me permita contar que, meu livro, cujo título é: PALÍNDROMOS – um desafio linguístico, é o único livro de Palíndromos, em língua portuguesa e a venda ao público. Podendo ser encontrado nas Livrarias Curitiba, Livrarias Catarinense, Livrarias Martins Fontes e em vários sites de venda a varejo.
6 – A técnica faz com que você consiga imaginar a palavra ou frase antes mesmo delas serem escritas. Estou certo em dizer que o palíndromo nos ajuda a trabalhar o cérebro?
Sim. O palindromista mais experiente consegue visualizar possibilidade para um palíndromo, ao deparar-se com uma palavra escrita, ou até mesmo a ouvindo. Exemplo: a palavra LAGO pode proporcionar O GALO NO LAGO. A palavra SAUNA pode produzir A NUA SADIA SAI DA SAUNA. E, mesmo com nomes próprios, resultam belos palíndromos. O PEDRO MORDE PÓ. O SAMUEL É CELEUMA SÓ, e assim por diante.
7 – Você também é mestre em Haicais. Explica pra galera o que são e qual é seu fundamento?
Sim sou haicaista. E tive sorte de ter como mestre um haicaista fantástico, ou seja, José Marins. O haicai é um formato poético japonês, tradicional e muito antigo. Consiste em três versos (frases) que se completam. A primeiro com 5 sílabas poéticas, o segundo com 7 sílabas poéticas e o terceiro com 5 sílabas poéticas. O haicai, não tem rima, nem título. E refere-se poeticamente à natureza ou eventos naturais. Aqui um do grande mestre nipônico Arakira Moritake.
inacreditável
flores que voltam ao galho
não … só borboletas
A boa técnica hacaista, não será escrever muito com poucas palavras, conquanto colocar poesia no evento natural. No vento, na chuva, na noite, no frio, nas águas, nas árvores. E também se pode ter um sequencial de haicais, cada qual referindo-se a um tema.
de pé à janela
atento aos bem-te-vis
o menino cego
longe e distante
teatro em ondas curtas
as rádio-novelas
Em resumo, o haicai não deve ser descritivo. Deixa sempre para o leitor imaginar o ambiente, e para tal, coloca um único verbo, ou nenhum verbo.
8 – Como criar essas frases objetivas e sintéticas?
Não há fórmula pronta para criação de frases sintéticas e objetivas. Creio que o conhecimento da língua, vocabulário vasto, conhecer os verbos e suas conjugações, é importante. Isto não significa um linguajar rebuscado. Há que ter simplicidade, sem vulgaridade. E ter em vista, o público a quem as palavras são destinadas. E, escrever curto, é bem mais trabalhoso que escrever longo. No meu caso, ouço com especial atenção o fraseado da publicidade atual. Muito já aprendi e continuo aprendendo com publicitários competentes.
9 – Seus haicais estão em um projeto de áudio-livro. Essas composições poéticas pinceladas com a sonoridade ganham que rumo, a seu ver?
É um projeto que ainda não consegui ativá-lo. O haicai, que contém mensagens sucintas, e por ser uma técnica poética ainda pouco conhecida, requer entonação e ritmo próprios, e quando sua leitura é deficiente, a poesia neles contida, se perde. E por falar em projetos, outro que não estou conseguindo incrementar, é aquele dos Palíndromos em Braille. É meu objetivo, verter palíndromos, colocando-os em Alfabeto Braille, para fazer o encontro da comunidade dos cegos, com os palíndromos. A única maneira de proporcionar aos cegos a Magia dos Palíndromos.
10 – Onde encontrar os livros do Osiris Roriz?
Meus livros, PALÍNDROMOS – Um Desafio Linguístico, Editora Artes & Textos, autor ZIRO RORIZ, e, HAICAIS & HAIKUS, Editora Artes & Textos, autor Osiris Duarte de Curityba, são encontrados nas Livrarias Curitiba, Livrarias Catarinense, Livrarias Martins Fontes e em sites de venda a varejo.
