
Foto da Barra da Tijuca – Tirada da Floresta da Tijuca – Final séc XIX – Augusto Malta – Acervo Museu da República
Um grande paraíso habitado só por indígenas e onde 3 grandes penhascos se destacavam: a Pedra da Gávea, o Pão de Açúcar e o Corcovado.
Assim era a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro até o século XVI.
Para entender melhor a história da Barra da Tijucafaremos uma breve viagem no tempo.
Breve história do Rio de Janeiro
Após expulsarem os franceses “definitivamente” (eles voltariam a atacar no século XVII), o governador Mem de Sá e seu sobrinho Estácio de Sá receberam da Coroa Portuguesa imensos lotes de terras como premiação. Estácio, heroico fundador da cidade do Rio de Janeiro, acabaria morrendo agonizante por conta de uma flecha envenenada que o feriu na luta contra as tropas da França e seus aliados nativos. Mais adiante, no século XVII, seus herdeiros doaram a Barra da Tijuca e outras terras para os religiosos do Mosteiro de São Bento.

O clero católico teve papel primordial na urbanização da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, gerindo hortas, pomares, abrigos, hospitais etc. Desde o início, portanto, zelando de forma relevante pela população local.
Sendo assim, no século XVI, os colonos portugueses começaram a urbanização efetiva do Rio de Janeiro a partir do quadrilátero geográfico formado por 4 morros onde se baseavam 4 missões católicas: jesuítas (Castelo), beneditinos (próxima à Ilha das Cobras), franciscanos (Catumbi) e carmelitas (Santa Teresa).

A partir de então, houve expansão na direção Noroeste desse quadrilátero, para Campo de Santana, Caju e Catete. Mais à frente, a urbanização chegou à encosta de Santa Teresa e à Glória.
Ocupação do Rio de Janeiro
No início do século XIX, ocasionado pelo período do Brasil Império, os bairros de Botafogo e São Cristóvão tiveram sua ocupação. Logo após, a urbanização seguiu rumo ao Oeste até a Lagoa Rodrigo de Freitas, bem como até os postos avançados de Jacarepaguá e Santa Cruz.

Com o fim do regime monárquico e a “Proclamação da República”, ainda no fim do século XIX, inicia-se a abertura de túneis, algo que impactaria imensamente a feição da cidade: Túnel da Rua Alice (1887), Túnel Velho (1892), Túnel Major Rubens Vaz (1963), Túnel Santa Bárbara (1964), Túnel Rebouças (1967), Zuzu Angel (1971), Túnel do Joá (1971), Túnel São Conrado (1971) e Túnel acústico da PUC (1982), entre outros, transformariam definitivamente o perfil do Rio de Janeiro.


O crescimento não planejado da cidade
A Barra da Tijuca iniciou sua urbanização tardiamente em comparação com bairros do Centro, da Zona Sul e da Zona Norte. Pode-se afirmar que o crescimento da cidade foi influenciado por fatores políticos, religiosos, colonialistas e até militares, portanto, foi uma evolução bem fluida, praticamente orgânica, quase espontânea e não planejada.
Essa evolução orgânica acabou refletindo na arquitetura e no urbanismo da Cidade Maravilhosa e impactando fortemente a cultura e o estilo de vida dos cariocas. Contudo, a história da Barra difere muito do histórico do Rio de Janeiro acima citado brevemente, uma vez que o bairro foi urbanizado de forma planificada; para tanto, foi encarregado o renomado arquiteto modernista Lúcio Costa, um dos idealizadores da cidade planificada de Brasília.

O crescimento da Barra da Tijuca
O debate ainda hoje é discutido sobre o caminho que deveria ter sido tomado para a urbanização do bairro com a maior praia do Estado e que certamente passaria a ser tão ou mais valorizado que os bairros litorâneos da badalada, mas já em processo de saturação, Zona Sul. Mas, se hoje parece ser fácil apontar os defeitos, na época usou-se a melhor metodologia que havia para a ousada tarefa de continuar a expandir inteligentemente a cidade para Oeste.

Inspirado nas ideias do mundialmente famoso arquiteto franco-suíço Le Corbusier, o então moderno e futurista Plano Lúcio Costa consistia em núcleos distanciados por 1 km com torres de 25 a 30 andares e pequenos comércios térreos circundados por lotes espaçados destinados a mansões, na áreas próximas a onde são hoje as avenidas das Américas e Lúcio Costa (mais valorizadas), enquanto que haveriam edifícios simples com andares limitados em 8 ou 10 pavimentos apenas, nas aéreas mais distantes do oceano (menos valorizadas).
No entanto, o zoneamento que marcou a história da Barra da Tijuca viria a ser criticado nos anos subsequentes pois aumentou as distâncias a serem percorridas num bairro tão grande e, além disso, a restrição ao tamanho dos prédios impediu uma maior oferta para uma grade demanda, causando grande aumento nos preços dos imóveis. Até hoje muitos urbanistas discordam do Plano, pois, comparativamente, bairros como Copacabana, Ipanema, Botafogo, Centro e Tijuca, por exemplo, são bem mais caminháveis, enquanto a Barra tem seu ponto fraco nas longas distâncias a serem percorridas internamente por moradores e visitantes.

História
Em 1900, parte da região doada aos beneditinos, em Jacarepaguá, foi vendida para a Empresa Saneadora Territorial e Agrícola S.A. (ESTA), ainda hoje grande proprietária de terras na área.
A concentração de grandes extensões de terras em mãos de poucos foi uma das causas do crescimento tardio da área, além da dificuldade de acesso, por estar separada do restante do município por grandes cadeias montanhosas. Nesta época, devido a essa dificuldade de acesso, a região era frequentada apenas por pescadores que insistiam em desbravar a área.

“As dificuldades para plantar, a distância do centro da cidade, o fato de ser cercada por cadeias montanhosas além do controle de terras nas mãos de poucos foram os principais fatores para que a Barra se desenvolvesse tão tarde em relação a outros bairros”, pontua o historiador Maurício Santos.
Inicialmente, a Barra da Tijuca passou a se desenvolver pelas suas extremidades. Jardim Oceânico e Recreio dos Bandeirantes, que foram se urbanizando aos poucos e esse processo foi tomando conta de todo o bairro.

Na próxima edição continuaremos nossa expedição nas belas terras da Barra da Tijuca. Não Percam!
Fontes:
@aclubtour
Arquivo Nacional
Brasiliana Fotográfica
Biblioteca Nacional Digital
IBGE